data-filename="retriever" style="width: 100%;">Em entrevista recente para uma rádio paulista, a médica Fernanda Torras, integrante da Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia e da Sociedade Brasileira de Mastologia, trouxe um dado surpreendente e que merece reflexão. Segundo ela, 70% das mulheres diagnosticadas com câncer de mama são abandonadas pelo marido.
Ainda que não se tenha a fonte segura dessa informação, ela não deve estar muito longe da realidade. Uma pesquisa realizada em 2015, no Hospital de Câncer de Barretos (SP), mostrou que 40% das mulheres que faziam quimioterapia ou radioterapia foram rejeitadas pelo companheiro. Em vários trabalhos acadêmicos disponíveis na internet, em que mulheres que se submeteram à mastectomia foram entrevistadas, o relato de abandono pelo parceiro é frequente, com depoimentos chocantes sobre as "desculpas" apresentadas para o fim do relacionamento.
O diagnóstico de uma enfermidade crônica já é um baque enorme e a extração da mama em decorrência de um câncer tem um significado de morte da feminilidade. O seio é um órgão associado ao prazer, à fertilidade e à vida, além de possuir poder simbólico cultural e social.
As reações das mulheres frente a esse tratamento se associam às suas subjetividades, sendo determinadas pela maneira como vivem e convivem com seus corpos desde a infância. E não se pode afirmar que o homem é insensível ao que acontece a sua companheira. Ocorre que, para grande parte deles, esse fato é insuportável. Ele não encontra forças para superar e muito menos para apoiá-la nesse momento tão doloroso.
A falta de compaixão é comum entre os companheiros das pacientes, sendo que a justificativa muitas vezes ouvida é de que a "sua vida deve continuar e nela não há lugar para um câncer feminino". No início, o abandono é sutil, mas com o passar do tempo ele se consolida. Os deveres de lealdade, mútua assistência e solidariedade assumidos no momento em que se estabeleceu a comunhão de vida são esquecidos e a separação é inevitável. Com ela, a dor e a depressão se multiplicam.
O carinho, o amparo e amor da família são fundamentais para o processo de recuperação. Quando descoberto e tratado no estágio mais precoce, o índice de cura do câncer de mama pode chegar a 90%, segundo os especialistas. Um dos requisitos para que isso aconteça é o apoio familiar, pois é comum a negação à doença e o desejo de desistir do tratamento quando a paciente está só.
Os homens devem erguer essa bandeira de apoio às suas companheiras. Desde o momento da prevenção até o da luta em prol da saúde e da vida. Podem começar, nesse mês de outubro, presenteando-as com rosas acompanhadas de um convite para que façam os exames preventivos, fazendo-se presentes nesse momento tão importante para a vida da mulher amada.
Como disse o poeta, mulheres são de onde as rosas roubam o seu perfume. Como as rosas, devem ser amadas, valorizadas e admiradas. Precisam de cuidados especiais e, se foram mutiladas, esse cuidado deve ser redobrado.